terça-feira, 17 de maio de 2016

Ensaio 3


ENSAIO 3

Personagem: Mocinha Bonita
Atriz: Nina Roberto
Foco: Estado
Data: 27/04/2016



         Esse terceiro ensaio se iniciou no escuro. O diretor pediu para que a atriz falasse seu primeiro texto da peca e ao mesmo tempo andasse pelo espaço até que essa assumisse o “estado” da personagem. Ao se referir a expressão, “estado” da personagem, o diretor desejava que na atriz estivesse presente a conexão entre postura física corporal, voz e palavra( dicção e a correta entonação do texto que já haviam sido apontadas em ensaios passados). Trabalhando o andar da atriz, o diretor enfatizou a importância de sua silhueta, pois era a visão possível no escuro. O diretor então posicionou uma cadeira no centro da sala e pediu para que a triz somente se sentasse quando sentisse segurança na personagem para que assim falasse seu texto.

         É importante lembrar que a iluminação do espetáculo será composta por três focos de luz, inicialmente uma atriz por vez, trabalhando com blackouts. Portanto um ensaio no escuro se faz interessante para que as atrizes criem estabeleçam um dialogo corporal mesmo na falta da luz.



Ensaio 4



ENSAIO 4

Personagens: Mocinha Bonita e Mulher Moderna
Atrizes: Nina Roberto e Tainá Cary



                                     






domingo, 8 de maio de 2016

Ensaio 2

ENSAIO 2

Personagem: Mocinha Bonita
Atriz: Nina Roberto
Foco: Texto
Data: 20/04/2016

         Esse segundo ensaio teve um caráter mais estático, foi mais como uma conversa onde o diretor e a triz definiram as intenções que deveriam estar presentes em cada fala da personagem. Realizaram então juntos a leitura do texto, pausadamente, incluindo algumas orientações gestuais que deveriam acompanhar determinadas frases e principalmente o que o ator definiu como “lemas” presentes no texto.

    “Mocinha Bonita: ...Uma menina que não sabe se comportar nunca será uma mulher de verdade...” RAYNAL,H. O Segundo Sexo. Pg. 6





         O diretor comentou com a atriz a importância do trabalho da criação da personagem com  qual ela principalmente deveria lidar, pois com as duas outras atrizes o trabalho é mais focado em suas vivências.

         É perceptível que o diretor possui um grande afeto pelo seu próprio texto, e talvez por isso busca focar muito na maneira(intenções e gestos) que o texto será pronunciado por suas atrizes.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Entrevista

Boa Noite, Henrique. Gostaria de te fazer algumas perguntas em relação ao seu texto e ao processo criativo que estará se desenvolvendo por esse momento:


1. Primeiramente, me explique melhor esse título e faça uma breve apresentação sobre o texto:

Resposta: O título é “O Segundo Sexo para leigos (Homens (Privilegiados) por um leigo (privilegiado (homem))).". O título vem de um dos livros base do feminismo "O Segundo Sexo" de autoria de Simone de Beauvoir. A vontade de fazer essa peça e montar esse texto, redigir esse texto e fazer essa investigação vêm de como a sociedade pode ser antagônica quando a gente fala do feminismo e da necessidade social que ele apresenta. O título se estende porque eu preciso deixar claro que eu sou um leigo no assunto, eu não tenho vivências de uma mulher e não compreendo essa vivência profundamente e precisei deixar isso claro no título e mais do que isso eu não posso fazer isso para mulheres, porque elas têm o domínio do universo da peça. Então logo no título eu precisei assumir que o texto é uma visão de fora para fora, é como eu explicar para as pessoas machistas e de extremo conservadorismo aquilo que me faz ser a favor do feminismo, aquilo que me faz ver a necessidade dele. Para isso eu fui atrás daquilo que me causava empatia, montei três personagens que poderiam carregar essas situações, ciente de que eles não englobavam e nem poderiam englobar o universo feminino, mas pequenas situações que pudessem ser usadas de exemplo para defender um ponto de vista.

2. Quais foram os pontos de partida para a elaboração do texto? Com quais autores você estabelece dialogo?

Resposta: O texto parte e funciona da ideia de uma ponte. Ele expõe questões que estão no meio e não toma bandeiras sobre o que é certo e o que é errado diretamente, porque eu acho que a própria plateia é capaz de chegar a certas conclusões e esse é o ponto de partida, criar uma ponte entre a problemática apresentada (mais de uma com certeza) e pessoas que viveram, vivem, incentivam, continuam ou perpetuam isso. Para quem já partilha das ideias apresentadas o texto funciona como uma reafirmação, mas é para aqueles que não se permitem pensar e ter empatia que o texto foi escrito. Informação é necessária porque a desinformação não descansa. Se tem um autor com quem eu faço ligações é Brecht, por conta do épico e do político. Mas mais diretamente eu correlaciono com várias amigas que leram e me orientaram, o que foi mais importante do que me basear em uma autor para atingir os objetivos do texto.

3. O que motivou a escolha do elenco?

Resposta: A escolha foi motivada pela necessidade dos personagens. Cada atriz se encaixou e foi escolhida conforme a necessidade dramatúrgica. A Nina Roberto é uma atriz empenhada que eu sei que dedicaria tempo extra e ensaio para criar a personagem 'Mocinha Bonita' que exige uma dificuldade extra, por ser uma personagem construída através de outro método, as outras duas atrizes podem aplicar suas próprias vivências, a Nina é completamente contra o discurso da Mocinha Bonita, é um discurso doloroso até, por isso fomos por um caminho mais clássico, com criação de personagem por Stanislavski, estímulos diversos que pudessem encaminhar a Nina até o local necessário para que ela pudesse defender a personagem. A Ariel é caloura, mas me demonstrou logo de cara ter a bravura necessária para fazer a 'Feminazi', uma personagem com muitas particularidades que precisaria ter essa bravura, porque também funciona como oposta à personagem da Nina. No meio nós temos 'A Mulher Moderna', logo no começo do processo eu pedi para ler o texto com todas as minhas colegas de turma, pra ver se tinha algo errado, se tinha algo que de alguma forma não estava bem representado ou torto dramaturgicamente, a Tainá leu a 'Mulher Moderna' e se interessou pelo papel, brilhou no papel e é capaz de trazer uma característica carismática para o papel que não existiria sem ela, a personagem poderia parecer menos ou uma simples intermediária entre opostos, mas a Tainá trouxe a presença dela que é enorme para inflar o personagem e tornar as movimentações dramatúrgicas dela bem mais brilhantes.

4. Como esta sendo a condução dos ensaios, e a preparação do elenco no geral?

Resposta: Os ensaios ocorreram na primeira quinzena de maneira separada, trabalhando com cada atriz em um momento. Mas a partir dessa semana nós vamos juntar as 3 (já aconteceu e foi muito gostoso de ver). Vamos começar a realmente levantar cenas, agora que cada uma tem um estudo maior da sua personagem. Vamos afinar as relações e experimentar o texto em cena. Sobre a preparação, acho que já falei um pouco sobre isso na resposta anterior. Nós temos uma atriz indo por um método mais clássico. E duas outras indo mais em um papel de performance, colocando a si no personagem ao invés de criar um personagem do zero.

5. Em relação as personagens, elas são inspiradas em três mulheres específicas de sua vida?

Resposta: As personagens são arquétipos que reúnem características de diversas mulheres que eu conheço, de modo que eu espero que as pessoas possam identificar nas personagens pessoas que elas mesmas conheçam que isso possa ligar elas ao que o texto propõe. E que essa ligação faça com que elas se questionem. Porque acredito que o papel fundamental do teatro é o questionar. Desde minhas colegas de sala (e elas perceberam isso na leitura), até familiares, amigas, pessoas próximas e distantes. Eu fiz uma seleção dramatúrgica que pudesse compor de maneira satisfatória esses três arquétipos, essas três figuras que pudessem ser humanas e não caricaturas. Essa era uma preocupação muito grande, que não soassem caricaturas, que não soasse como se não fosse verdadeiro ou válido. E acho que me inspirar em mulheres reais, perguntar pra elas, por o texto pra elas lerem, modificar o texto conforme o que elas me falavam foi o que me afastou do que poderia ser um desserviço e um erro patético.

6. Por que da montagem nesse momento?

Resposta: Nós vivemos em um período de falsa liberdade onde as pessoas se acomodaram na covardia. Eu acredito que houve avanços sociais de 20 anos pra cá em todos os aspectos da sociedade, não só os relacionados ao texto. A internet é uma maré de informação, informação e desinformação. E hoje as pessoas podem se esconder atrás de um computador e jogar o ódio delas aos quatro cantos. Não acho que o ódio seja uma coisa nova, antigamente havia amparo legal para a violência doméstica, por exemplo, hoje isso não é visto com os mesmos olhos. Mas ao mesmo tempo se antes era necessário viver algo, investigar algo, hoje em dia as pessoas acreditam em domínio sem questionar. Hoje em dia chegamos a um ponto de ruptura onde precisamos escolher lados, onde poder ter uma opinião se confunde com precisar ter uma opinião e as pessoas o fazem de maneira covarde e preguiçosa. O texto está ligado obviamente com a minha visão e a minha vontade perante essa ruptura, eu não sofro o que uma mulher sofre, mas isso não quer dizer que eu não possa me sensibilizar, ter empatia ou enxergar absurdos, isso quer dizer que eu não posso achar que eu sofro mais, porque isso é diminuir o sofrimento dela, eu não posso achar que eu sei o que é, porque eu não senti isso na pele... Eu preciso investigar isso, investigar e entender que eu também sou parte dessa sociedade, que eu também tenho meu link nessa questão, se eu me calo eu sou o opressor, se eu falo me apropriando como se fosse meu, eu sou o opressor, se eu finjo que nada está acontecendo é como se estivesse tudo bem e não está. Eu preciso entender qual é o meu papel nisso e meu papel não é o de falar por falar, mas o de entender como isso me afeta e a partir da minha experiência gerar algo. Minha experiência foi ouvir mulheres, ver mulheres, entender aquilo que por vivencia eu não seria capaz. Entender que isso é transformador, que se ninguém fala, que se eu não me permito entender eu sou facilmente diluído ou guiado pelo que tá vigente e o que tá vigente tem feito mal têm sido cruel. A partir do momento em que eu entendo o que isso é pra mim, eu preciso decidir fazer algo com isso ou não... Mas eu não posso falar na frente, eu não preciso falar disso pra mulheres e eu nem posso achar que eu posso mudar algum homem. Então o texto não se trata disso, se trata de questionar, de dividir as questões que imperam dentro de mim e a partir disso esperar que quem assista se questione. Eu não sei qual resposta vão ter, porque isso não cabe a mim, isso cabe a vivencia de cada um. Mas em mim eu tenho a crença que apesar de todas as diferenças, particularidades de cada indivíduo, nós temos o mesmo valor humano e essa é uma mensagem que tá anexado ao todo e é através disso, através daquilo que nos une que eu pretendo atingir algo.

7. Agradecimento

 Agradeço sua disponibilidade para nos contar um pouco mais sobre esse intrigante processo e suas ligações com mulheres diante dessa nossa sociedade machista. Desejo um ótimo trabalho pra você e suas atrizes e que consigam colher ótimos frutos! Obrigada!